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Parto humanizado: uma linha tênue entre opção e direito da mulher

– Por Barbara Schiontek, Helena Sbrissia e Thiliane Leitoles 

Apesar da recomendação feita pela OMS de que os partos por cesariana não ultrapassem 15%, dados de 2018 mostram que mais da metade da população nasceu por meio desse tipo de parto

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A humanização pode estar presente nos diferentes tipos de parto, seja normal ou cesárea. A abordagem humanizada pode ocorrer, ou não, durante o trabalho de parto. O que pode acontecer, e de fato acontece, é que na cesárea, o processo natural, que envolve o momento necessário pelo bebê para seu desenvolvimento, é ignorado. Isso acontece quando, em algumas situações, o médico induz a paciente a uma cesariana sem necessidade.

 

Apesar da recomendação lançada em 2018 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de que o número de cesarianas não ultrapasse os 15%, dados registrados pelo Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) em dezembro de 2018 mostram que o nascimento de 55% da população ocorre por meio da cesárea, sendo que as regiões Centro-Oeste (62%) e Sul (60%) possuem os maiores índices. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Sistema Único de Saúde (SUS) possui um percentual de 57% de cesarianas, enquanto na rede particular, esse índice é de 84%.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Sistema Único de Saúde (SUS) possui um percentual de 55% de cesarianas, enquanto na rede particular, esse índice é de 84%. No Paraná, em 2018, o índice de cesarianas não passou dos 31,7%, contra o percentual de 68,3% de partos normais.

A cartilha “Direito das Mulheres no Parto” foi publicada em 2016 pelo Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde. Esse informativo conta com diversos depoimentos de mães que já passaram por violência obstétrica e, também, com instruções de profissionais da área de saúde, para que outros não cometam equívocos na forma de lidar com as mulheres.

Na cartilha também é abordada a recomendação feita pela OMS. “Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomende a atenção aos partos de baixo risco com o mínimo de intervenções possíveis, e reconheça a problemática da violência obstétrica nos serviços, as taxas de cesárea têm crescido em diversos países. Esse aumento excessivo está associado a maiores riscos de morbimortalidade para mulheres e bebês”.

No link abaixo, você consegue ter acesso à Cartilha e pode obter informações à respeito de temas pertinentes em torno do parto:

http://mulheres.org.br/wp-content/uploads/2017/09/cartilha-WEB.pdf

O papel da doula

Nitiananda Fuganti é doula há oito anos. Ela começou nesse ofício após ter sofrido uma violência obstétrica no nascimento de sua primeira filha. Niti, como prefere ser chamada, levou a experiência da forma mais positiva possível, usando como ponto de partida para ajudar outras mulheres no nascimento de seus filhos.

"Estamos em uma cultura em que falar sobre o parto não é mais comum, o que torna o ato difícil para as mulheres que nunca passaram por isso. É um território desconhecido. E na maioria das vezes o que essas mulheres não tem no parto é justamente essa assistência, elas não encontram um olhar verdadeiramente amoroso e cuidadoso, que é o que elas precisam para parir. E é nessa assistência ao parto que temos muitas falhas, desde o sistema de saúde até os profissionais de assistência ao parto. Estamos falando de empatia e respeito ao outro".  

Quem somos

Segundo a obstetra Juliana Chalupe Amado, o parto humanizado parte de três pilares essenciais: a medicina baseada em evidências científicas, o protagonismo do binômio mãe-bebê e o atendimento multidisciplinar. Para ela esses pilares dão à mãe e ao bebê uma experiência de parto mais segura e satisfatória, com benefícios que podem se estender para toda a vida.

“O médico sai do papel de protagonista do parto e passa ao papel de assistente. Lógico que é importante frisar a responsabilidade técnica do atendimento. Monitorizar o bem estar de mãe e bebê usando todas as ferramentas disponíveis em nosso cenário, é nossa rotina. Porém, dentro disso a mulher pode optar livremente por manter-se em movimento, pela posição, uso de suas próprias roupas, acompanhamento de doula, alimentação, dentre outros aspectos”, afirma Juliana.

A obstetra ainda reitera que não há qualquer contra-indicação para a realização do parto humanizado, e que o objetivo do procedimento é manter as atenções focadas na mãe e o recém-nascido. Juliana faz parte do Grupo Nascer, que reúne alguns médicos obstetras com a mesma linha de atuação e interesse — a humanização do parto.

De acordo com Marina Belomo, que faz parte da comunicação do grupo, a motivação principal dos médicos é ofertar disponibilidade 100% do tempo para as mulheres, já que mesmo que algum deles esteja viajando, em uma emergência ou contratempo, sempre haverá outro profissional para realizar o acompanhamento necessário para a segurança daquela futura mãe.

“O médico, além de especialista em obstetrícia e ginecologia, também precisa de disponibilidade de tempo para deixar acontecer o processo natural do corpo de cada mulher. Prezamos também pela atualização baseada em evidências científicas, para oferecer qualidade técnica e segurança no acompanhamento. Não é porque o parto existe desde o início dos tempos que a assistência é a mesma. Atualização é responsabilidade”, afirma Marina.

O obstetra Wallace Viana e Silva diz não se opor à presença de doulas durante os partos. “São bem vindas, pois ajudam a parturiente com o suporte psicológico e as orientam para um parto mais calmo e tranquilo”. 

Entretanto, Silva afirma não concordar com o parto domiciliar por não considerar um método seguro. “Simplesmente por não estar em ambiente hospitalar para uma intercorrência, isso pode custar uma vida ou duas”.

Nossos projetos

A escolha da mulher

Mãe de primeira viagem, Sabryna Andrade tem uma filha de dois anos, a Valentina, e relata que desde o início de sua gestação possuía a intenção de realizar um parto natural, tendo como objetivo o respeito pelo desenvolvimento do bebê e a preferência pelo não uso de anestesias e remédios que acelerassem a dilatação. “Via vários vídeos sobre partos normais, os procedimentos e a forma correta dos médicos agirem e também, como as posições poderiam favorecer quando fosse a hora”.

Ela conta que a sua obstetra sempre destacou a possibilidade de realizar o parto normal, já que ela não havia sofrido nenhuma complicação durante o período gestacional e além disso, o bebê se encontrava em posição favorável. Entretanto, no dia do procedimento, Sabryna passou por uma cesárea de emergência, pois sua pressão estava muito alta e, de acordo com o obstetra de plantão, nesse caso o parto normal poderia ser arriscado para a mãe e para a filha.

“Eu ainda insisti para tentar o parto normal, mas o mais indicado no momento foi a cesárea. Só depois de assistir alguns relatos de obstetras e mães, vi que que talvez o parto normal ainda seria um opção com bastante cuidado e paciência”, afirma a mãe da Valentina.

Maria*, que também é mãe pela primeira vez, afirma ter escolhido o parto normal. A gestante diz que, desde o começo da gravidez, buscou entender melhor sobre as opções que lhe foram oferecidas à respeito do parto.

Maria comenta que não se sentiria segura ao optar pelo parto humanizado, principalmente, se feito sem nenhuma intervenção médica. “É um parto que procura não utilizar tantas intervenções hospitalares. Em alguns casos, durante o trabalho de parto, o coração do neném não é escutado. Então, durante as contrações, não podemos saber se o bebê está bem”.

No dia da entrevista, Maria estava com 39 semanas de gravidez. Após três dias, ela ganhou o bebê sem problemas durante o processo e por meio de parto normal, como era sua vontade.

*A mãe preferiu não ser identificada.

A escolha da humanização do parto

Larissa Fischer Lopes é professora de educação infantil e mãe do Benjamim, de apenas dois meses. Junto ao marido, Douglas Rodrigues de Oliveira Barbosa, optou pelo parto humanizado, tendo como doula a Nitiananda. Larissa acredita que a humanização deveria ser parte integrante e fundamental de qualquer tipo de parto. “O atendimento humanizado não deveria ser uma escolha, mas sim um direito de todas e uma obrigação de quem fornece o serviço”.

Larissa diz ter recebido muita influência de mulheres próximas a ela que estiveram em situação de protagonismo em seus partos. Além disso, a professora afirma ter buscado muita informação à respeito do assunto, o que a fez concluir que havia muita desonestidade da parte médica durante o processo do pré-natal. “Eu ouvia muitas mulheres repetindo o mesmo discurso. E, ao consultar as duas primeiras médicas, eu percebi o favorecimento da cesárea e a falta de clareza ao responder meus questionamentos sobre o momento do parto”.

Portanto, Larissa confirma ter sofrido pressão médica para escolher o parto de cesariana. Entretanto, ela diz não ter encarado o mesmo problema em ambiente familiar, apesar da mãe ter passado por três cesarianas. “Acredito que meu pai até ficou aliviado com minha escolha, justamente por eu não optar pelo procedimento cirúrgico”.

Em consulta com o terceiro médico, Larissa questionou sobre a possibilidade de acompanhamento de uma doula. “O médico me disse que, inclusive, seria muito bom se eu tivesse a oportunidade de ter a presença de uma doula. Mas ressaltou que a doula não o substitui, nem ele a ela, assim como, eles não substituem meu marido, nem ele a algum deles”.

 

Larissa também afirma não ter sofrido impedimento do hospital ou do médico quanto à presença de seu marido durante o processo.

Larissa afirma que foi um sentimento de entrega e que, mesmo tendo sido necessária uma pequena intervenção médica ao final do trabalho de parto, a recuperação foi rápida. Ela conclui dizendo que, em uma possível futura gestação, provavelmente, ela opte pela abordagem humanizada e até pela mesma equipe.

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